Publicada em 05/06/2020

Milton Berger ressalta engajamento dos profissionais do Hospital de Clínicas durante a pandemia

Diretor-médico participou de live da FaSaúde/IAHCS.

 

A Faculdade de Tecnologia em Saúde (FaSaúde) promoveu mais uma edição do FaSaúde Ao Vivo, com o tema O Hospital de Clínicas de Porto Alegre e a Covid-19, na quarta-feira (3). O debate foi transmitido pelo Instagram, contando com a participação do professor e doutor em epidemiologia Paulo Petry, coordenador dos cursos de extensão e pós da FaSaúde/IAHCS, e do diretor-médico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), médico urologista Milton Berger.

O debate contou com apoio da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Rio Grande do Sul (FEHOSUL), Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (Sindihospa), Associação dos Hospitais do RS (AHRGS), Instituto de Acreditação Hospitalar e Ciências da Saúde (IAHCS Acreditação) e Portal Setor Saúde.

 

"O Hospital de Clínica é uma referência para o Rio Grande do Sul. É o maior hospital universitário da região e, nesse tempo de pandemia, segue sendo uma referência. Por isso, vamos analisar com o Dr. Milton como ele observa a pandemia da Covid-19 e como o Hospital de Clínicas está se saindo nesses tempos difíceis", disse Petry na abertura da Live.

 

Primeira reunião em janeiro e novos protocolos estabelecidos

O diretor-médico disse que o Clínicas se preparou desde as primeiras evidências da doença no mundo. "Já em janeiro, tivemos uma reunião, liderada pela Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do HCPA para entendermos o que estava havendo no mundo em relação ao coronavírus. Desde janeiro, já estávamos nos organizando. Mas foi em março que tivemos que tomar medidas mais incisivas. O Hospital estabeleceu planos de contingência, separando por níveis, de acordo com as diferentes realidades que poderiam vir dali pra frente e quais ações a instituição deveria tomar", detalhou.

Uma das primeiras ações foi diminuir a circulação de pessoas, para evitar aglomerações na instituição. Uma das ações realizadas com esse objetivo foi a diminuição das consultas e cirurgias eletivas. "Isso fez com que diminuísse o movimento das pessoas aqui dentro. Além disso, o nosso forte sistema de TI possibilitou rapidamente fosse estabelecido o trabalho remoto nas áreas de Radiologia, em que os profissionais podem interpretar exames de casa sem precisar estar no hospital", afirmou.

 

Telemedicina e testes para o coronavírus realizados no HCPA

Berger salientou que, mais recentemente, o HCPA implementou o teleambulatório, em que foram implementadas consultas por telemedicina. Os testes de detecção do coronavírus também contam com uma logística que prevê agilidade no atendimento: os testes são realizados dentro do HCPA, sem necessitar recorrer a um laboratório externo para a detecção dos resultados, fato que é ressaltado pelo diretor-médico.

Os investimentos realizados no HCPA para expandir a capacidade de atendimento também foram salientados pelo diretor-médico. "Recebemos recursos do Governo Federal para abrir 105 leitos de CTI, compra de equipamentos e contratação de pessoal. Já inauguramos 56 leitos, e vamos expandir. Atualmente, temos 112 leitos para atendimentos críticos no Hospital. O Clínicas se modificou bastante desde o início da pandemia", avaliou.

 

Impacto psicológico nos profissionais

Durante a Live, Petry questionou ao convidado sobre o impacto psicológico nos profissionais de saúde no período atual, pelo impacto do coronavírus no cotidiano da saúde.

"Hpa vários artigos falando sobre como gerenciar a força de trabalho nesses tempos. Realmente, há preocupação, receio, medo, temor. E mais, há muita desinformação. As mídias sociais permitem que tenhamos muitas informações, mas a qualidade pode não ser a melhor. Existem muitos temores infundados. Ter transparência e esclarecimento é fundamental, e esse foi um dos pilares implementados na gestão do Clínicas para lidar com essa nova realidade", explicou.

 

Controle de casos de Covid-19 entre os profissionais do HCPA

De acordo com o diretor-médico, o HCPA conta com cerca de 6 mil colaboradores, além de professores residentes. Destes profissionais, aproximadamente 1.400 profissionais realizaram o teste para a Covid-19, em que 70 pessoas tiveram o resultado positivo. Muitos porém, tiveram infecção fora do ambiente hospitalar, o que demonstra o cuidado redobrado que a instituição hospitalar vem adotando para garantir a segurança de profissionais e pacientes.

"Mas os casos positivos geram ansiedade nos demais profissionais, sim. Porém, quero ressaltar o trabalho desenvolvido pela Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, do serviço de medicina ocupacional, da gerência de risco do HCPA, que fazem visitas aos locais para tomar medidas, mas para basicamente esclarecer e tranquilizar os profissionais. Além disso, o serviço de Psicologia do Hospital tem dado um suporte tremendo. O trabalho que eles estão fazendo é muito bonito, e isso provê um conforto para os colaboradores", destacou.

 

Ações colaborativas

Petry ressaltou que a pandemia trouxe o que há de melhor e pior nos seres humanos - de um lado, muitas ações de solidariedade ganhando foco; de outro, desvios em recursos públicos que seriam destinados para a aquisição de equipamentos e novos leitos em hospitais, por exemplo.

O diretor-médico se mostrou entusiasmado com a resposta espontânea dada por colaboradores, professores e residentes durante a pandemia, que se disponibilizaram a realizar ações colaborativas.

"Temos voluntários, que queem fazer além do seu trabalho na instituição. São pessoas que se voluntariam para fazerem além do seu trabalho, que se voluntariam para fazer outras atividades que sejam necessárias. Não são somente os colaboradores, mas também residentes, professores, um contingente que se dispõe a colaborar mesmo fora da sua área de atuação, em uma eventual necessidade", enfatizou.

 

Lições da pandemia

"Eu estava lendo Rubem Alves, que dizia que a iminência da morte nos faz prestar atenção e dar valor ao que realmente importa. Então, como estás vendo a questão do Hospital nesse momento tão dramático, mas com esses exemplos bonitos que foram referidos? Acho que uma lição que fica, bem importante, é a valorização do SUS, além da importância da valorização da ciência, das pesquisas, das pesquisas, das universidades públicas. Quais as lições que o vírus nos deixará, apesar de tantas consequências ruins trazidas?", questionou o professor da FaSaúde.

Berger acredita que há muitas lições que serão trazidas com a pandemia. Para ele, a realidade imposta exigiu uma organização e articulação do sistema de saúde para gerar uma resposta efetiva a uma pandemia que acomete toda a sociedade. O diretor-médico voltou a ressaltar a colaboração feita no HCPA para o laboratório interno, que garante a realização e resultado dos testes da Covid-19, gerando agilidade e segurança.

Reuniões virtuais e o incremento da telemedicina são lições que foram levadas aos hospitais, de acordo com Berger. "A telemedicina é um recurso importante, temos que aprender a usar esse recurso. O Clínicas estimulou que isso fosse feito, e estamos fazendo teleconsultas, que permitem agilidade nos atendimentos. Espero que o tema evolua e se considere a telemedicina para outras situações fora da epidemia, porque isso vai agilizar a assistêcia aos pacientes", avaliou.

"Pessoalmente, todos tivemos que modificar nossas vidas. Isso nos faz repensar valores. Acho que nesses momentos nós refletimos. E esse momento de ameaça de finitude da vida, nos faz pensar nessas questões mais fortemente, e talvez nos faça voltar a dar valor a muitas coisas que não damos em nossas rotinas normais", finalizou.

 

Nova Live da FaSaúde com o Dr. Salvador Gullo Neto

Na próxima quarta-feira (10), a FaSaúde promoverá uma nova edição. Paulo Petry recebe o Dr. Salvador Gullo Neto (CEO do app Safety4Me, focado na segurança do paciente).